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segunda-feira, 29 de março de 2010

Vingança


Ajoelha-te! Tua posição deve submeter-se à tua queda.

Olha-me! Veja os reflexos da minha vingança.

Ouça-me! Quero que teu corpo estremeça ao sentir o poder da minha voz.

Cala-te! Pois agora é a vez dos meus lábios denunciarem o pavor dos teus pesadelos.

Eu nunca pude sorrir a grandiosidade de uma vingança, e o sabor das sobremesas amargas do esquecimento fez apodrecer a vontade que me consumia de um horror aos olhos famintos que me olhavam no espelho, mas já que este é o meu sonho... Vamos aproveitar a fantasia.

Eu quero ouvir os teus gritos de pavor ao sentir a lamina cortar teu corpo. O mesmo fio de corte que me desenhava cicatrizes eternas noite passada, hoje cobre tua carne com o odor forte de sangue. As mesmas pedras de sal que me escorriam dos olhos, aplacando as feridas expostas que me deixavas de presente, hoje ardem em teus machucados, apodrecendo-os com o veneno que escorre em vermelho.

Que teu peito inflame com todo o ódio que descarrego de minha alma neste instante. Que teus olhos derramem toda a dor da qual me livro e que possas, em teu leito de morte, entender qual é o desespero de morrer. Que o sufoco que engata em tua garganta seja forte o suficiente para te mostrar o quanto o ar faz falta em momentos como esse. Como a necessidade de respirar se torna absurda e a futilidade deste ato complete o quadro de existência. Eu sei bem como é esta agonia que te suspende ao limite. Eu deixei de respirar por dias, inflando meus pulmões apenas com lágrimas doloridas. Eu sangrei por dias, indo além das expectativas dos teus planos malévolos. Eu morri, mais do que as sete vidas que descrevem como ápice dos felinos, auge da sorte.

A única coisa que me separa desta sua vivencia, é que eu venci. Eu sobrevivo dentre os cacos do cansaço, eu triunfei perante aos teus chicotes cortantes no ar. E tu te afogas nos meus delírios.


quinta-feira, 18 de março de 2010

Amor Psicopata


Frank acordou com o corpo todo dolorido, sentia dificuldade em abrir seus olhos, ou em balançar a cabeça. Sentiu seu corpo pesado e molhado, tentou se mexer, mas não conseguiu, estava amarrado, estava sentado. Sentia correr um liquido grosso de sua boca, sentia o cheiro forte de incensos, podia ver as velas acesas naquele lugar frio, escuro, sujo, molhado, sombrio.
Ficou desnorteado, não sabia como tinha ido parar ali, gritou por socorro, mas seus lábios doíam, aquele liquido tinha gosto de sangue, deveria ser, seus olhos estavam pesados, sentia dores por todo seu corpo, e apenas o eco vazio de sua voz fraca passava pela sala. Foi então, que ouviu passos, aliviou-se, estava a salvo, alguma alma abençoada o tiraria daquele terrível pesadelo.

Sorriu, por mais que seus lábios doessem, sorriu ao ver a figura se aproximar em passos lentos de seu corpo aprisionado em uma cadeira de madeira velha. O homem, vestia uma manta negra, uma capa, com um capuz que impedia Frank de ver seu rosto, não importava, ele estava a salvo.

- Por favor, me tire daqui!

Foi tudo o que a voz fraca de Frank o permitiu dizer, e depois, apenas se ouvia o som de uma gargalhada demoníaca, provinda do homem da capa preta. Frank então, se assustou, tudo estava perdido, aquilo não era um pesadelo como na noite passada, não, era real, e muito, pois ele conseguia sentir as dores.
O homem, pegou uma das velas, e dirigiu-se de volta a Frank, rodeando, como um predador que analisa com cuidado sua presa, arrancando suspiros de medo de Frank. Aquele cheiro, o perfume do homem, não lhe era estranho, suas curvas escondidas pela capa, o balançar de sua cintura ao caminhar, seus gestos, era confuso demais, ele conhecia de algum lugar tudo aquilo. O homem, então, retirou sua capa, de costas a Frank, que olhou pasmo. Era Gerard, seu namorado, seu amor. Impossível não reconhecê-lo naquelas roupas pretas, seu andar sensual, aos olhos de Frank, sua pele extremamente clara, seus cabelos escuros. Respirou fundo, não acreditava, o que ele queria, o que ele pretendia? Sua mente não parava quieta, tinha que arrumar uma forma de sair dali.

Gerard, não falava nada, apenas olhava Frank com um olhar demoníaco, percebia em seus olhos uma loucura pouco comum em um relacionamento amoroso. Seu sorriso, era psicopata, seus dentes travando-se em uma linha entre o medo e a paixão de Frank, que pedia por ajuda, e apenas recebia tapas que machucavam ainda mais seu rosto já fraco e esmurrado. Sentiu mais sangue lhe invadir a face, escorrendo por sua roupa, que já estava manchada, permanecendo intacto nas mãos gélidas de Gerard. Aquele não era o seu Gerard, era um demônio, ou qualquer outra coisa que possa ter se apossado do seu amor. Custava a acreditar que aquilo tudo era real, e só o fazia quando sentia as cordas lhe cortando o pulso.
Olhe em meus olhos, Frank.
- Gerard, o que está acontecendo? É alguma brincadeira?
- Brincadeira? E você acha que eu brincaria com algo que eu realmente sinto?
- Então me diga, por favor, o que está acontecendo?
- Olhe nos meus olhos, e diga que me ama. Preciso ouvir isso antes da morte.”
- Morte? Que morte?
- Apenas me diga, Frank.
- Sim, eu te amo, Gerard.
- Era tudo o que eu precisava ouvir.
- O que fará comigo agora?
- Você não imagina? – Gerard voltou a abrir seu sorriso doentio, e pegou uma faca de seu bolso esquerdo, passando pelas ataduras das mãos e pernas do menor, que estava amarrado à cadeira.
- Você vai me matar, meu amor?
- Acho que não sou capaz de ser tão cruel, ainda.
- E o que quer antes disso?
- Você sabe. – Gerard, passou a alisar o membro do menor, por cima da calça.

O maior pegou na mão do menor, ajudando-o a levantar-se, e o beijou perdidamente, seria o último beijo de seu amor. Passou a acariciar-lhe a cintura, com desejo, com cuidado, com prazer. Frank, com medo, com dor, passou a permitir tais ações e liberdades do maior sobre seu corpo, e enquanto Gerard se perdia em seu êxtase, Frank aproveitou a oportunidade e pegou a faca que havia no bolso de Gerard, e em um ato rápido fincou-a nas costas do maior, que começou a olhá-lo com dor, deixando que lágrimas de sangue escorressem por sua face. Seu corpo estava ficando sem vida, seu coração havia sido brutalmente assassinado, não de uma forma convencional, mas da pior maneira possível.
Correu o máximo que pôde, sem direção, com dores, sem destino, queria apenas fugir daquele lugar que o causava arrepios. Achou uma estrada, e correu por ela, estava frio, estava escuro, o dia ainda estava amanhecendo, e seus ferimentos não o deixaram ir muito longe. Seus olhos morriam em lágrimas, afinal, ele amava Gerard apesar de tudo, e agora, ele estava morto, morto por suas mãos, que estavam imundas pelo sangue do mesmo.
Encontrou um taxista que passava pelo local, pediu que ele o levasse sem fazer perguntas até sua casa, pagou e ao entrar novamente, fechou todas as trancas que haviam de segurança. Tomou um banho rápido, fez uma mala com coisas necessárias para alguns dias, pegou todo dinheiro que guardava em casa, entrou no carro e sumiu.
Após alguns dias, ligou de uma cidade esquecida por Deus, deixando a casa a venda, e as a responsabilidades de seu trabalho com seu amigo. Não era muito difícil encontrar um trabalho novo na cidade, ele era jovem, bem formado, conseguiu fácil.
O dinheiro estava acabando, quando recebeu a noticia da venda da casa. Sentiu-se aliviado, e tentou respirar novamente.
Os dias se passaram, 3 meses mais precisamente, e Frank se encontrava feliz em sua pacata vidinha. Chegou em casa, crente que continuaria assim por muito tempo. Preparou um almoço delicioso, esperava por sua nova namorada, e ouviu as batidas na porta. Correu para atender, estava ansioso, e quando abriu a porta, seu terror voltou a tona.
Ele, com suas roupas pretas, sua pele clara e seus cabelos escuros, renovado, e com um sorriso mais maníaco do que o anterior.

- Sentiu minha falta?
- O que você quer?

Gerard levantou a mesma faca que Frank, inocentemente havia usado para tentá-lo matar, e mirou na garganta do menor.

- Olhe nos meus olhos, e diga que me ama. Preciso ouvir isso antes da sua morte.

As 12 badaladas


Primeira badalada:
Quando Ryan abriu os olhos, estava em um local estranho, diferente, que nunca havia estado. Fazia frio, muito frio, estava de noite, era um beco escuro, silencioso, cheio de poças de água anunciando que a chuva tinha acabado de passar. Procurou por alguém, mas nada viu além de uma cerração assombrosa. Correu para o meio da rua, e assim que piscou...

Segunda badalada:
Viu ele. Uma capa negra, uma cartola igualmente escura, correndo por aquelas ruelas vazias, fazendo o som de seus passos ecoarem no silêncio imposto pela madrugada. Piscou...

Terceira badalada:
O homem misterioso já estava ao alcance de suas mãos, seria fácil puxá-lo e ver quem era, e porque fugia. Foi o que fez, segurou firme sua capa, e virou seu rosto, coberto por uma máscara, e assim que a puxou, não resistiu e piscou...

Quarta badalada:
Tudo estava diferente, as ruas estavam claras, as pessoas caminhavam com seus trajes de época, as crianças brincavam nos cantos, as lojas abriam, o sol reinava em uma paz absurda. Nada condizia com a verdade, e novamente, lá estava o homem da capa. Não agüentou e piscou...

Quinta badalada:
Se via correndo na direção do misterioso homem, não sabia que caminho seguia, suas pernas estavam se mexendo sozinhas, ele apenas seguia o que elas faziam, e corria, corria desesperadamente esticando suas mãos para alcançar o homem. Estava chegando perto, quando piscou...

Sexta badalada:
Seus olhos encontraram um chão sujo, ao seu redor podia sentir o frio ultrapassando seu corpo ferido, a lama da rua sujando suas roupas e as sombras do homem correndo... Mais uma vez, piscou, era inevitável piscar a cada segundo.

Sétima badalada:
Já estava sem forças, cambaleando por ruelas tortas, vendo imagens distorcidas, vazios se misturando com o ar pesado, berros, sussurros, músicas fúnebres, e seu corpo estendido ao chão. Uma mão lhe tocou, mas ele piscou...

Oitava badalada:
Era o homem da capa, com sua máscara de ferro, e um punhal ardendo em sangue. A máscara não era tão grande a ponto de cobrir-lhe os lábios, que sorriam um sorriso maníaco, psicopata, entorpecido. Seus olhos, com lágrimas rasas tornaram a piscar...

Nona badalada:
Ryan já prendia o homem contra a parede, seus olhos exalavam ódio, e suas mãos exibiam uma força que nem mesmo ele sabia de onde vinha. Jogou seu corpo contra o dele, para aprisioná-lo ainda mais, estava pronto para tirar sua máscara quando ouviu o som de uma badalada do relógio e piscou...

Décima badalada:
Novamente ele corria atrás do homem mascarado, que fugia deixando sua capa voar com a brisa que assombrava as ruelas. Deixando rastros de sangue pelo local. Ryan corria o máximo que podia, se sentia fraco, mas não desistia. Lutou, mas não conseguiu evitar e piscou.

Décima primeira badalada:
O cenário havia mudado pouco, ele corria pelas esquinas de um cemitério. A densa neblina o assustava mais do que as lápides apodrecidas e os sons que emitiam os animais, quebrando o silêncio do seu medo. Já não se ouviam mais passos, não era possível ver nada, só ele sentado sobre um túmulo cheio de gravetos derrubados pela chuva. Ele queria piscar, mas não conseguia, e com seu devaneio o homem surgiu sobre seu corpo, como um demônio carnívoro, segurando seus pulsos firmemente com apenas uma mão, e a outra segurando um punhal de onde escorria o sangue que caía em gotas no seu rosto. E com uma das gotas, ele piscou...

Décima segunda badalada:
Seus olhos se abriam com medo, e já não havia ninguém lhe segurando, levantou em um impulso, e correu sem ter caminhos traçados, quando viu o mesmo homem às sombras de uma árvore com folhas secas. Se aproximou, e o homem não se mexia, e quanto mais se aproximava, mais claramente pode ver que ele segurava um coração sangrando em suas mãos. Tinha uma ferida aberta no peito. Ryan correu para ver quem ele era, e ao tirar sua máscara caiu pra trás, acordando em sua cama, com um peso sobre seu corpo.
Abriu os olhos e lá estava ele, o homem da capa, Brendon, seu namorado, com um punhal em suas mãos

- Não Brendon, não...

Apenas pode-se ouvir gritos desesperados de dor, e logo após ter matado seu namorado, Brendon segurando um coração sangrando em suas mãos.

- Seu coração será só meu!

Bem vindo à minha morte

Posso ver todos correndo, fugindo de uma mentira que eles mesmos criaram, inventando um mundo perfeitamente contraditório, em suas imaginações fúteis.
As vozes estão gritando, os ecos se acumulam em minha mente, os corações vão acelerando, fazendo-me escutar seus batimentos ensurdecedores, e ninguém entende. Sou só mais uma louca no meio da praça, procurando explicações para confusões diárias.
A pistola está em ponto de ataque, as espadas sobrevoam baixo, por cabeças perplexas, desenhadas, inventadas.
Essa é a perfeita mentira que resolveram criar, flores de plástico morrendo, artefatos simbolizando corações destruídos, este é meu mundo estraçalhado por este machado, e brutalmente costurado com pregas de aço, infeccionando as feridas que estão cicatrizando.
Eu te apresento o ódio, prazer, este é o meu sangue, que é apenas mais um enfeite nesta estante de órgãos apodrecidos com o ar poluido pelo veneno.
Eles bebem, festejam, contemplam uma estátua marcada a ferros, acorrentada por grilhões demoníacos, este é o meu presente, seu caixão.
São idiotas demais, não podem aceitar que quebraram seus próprios sonhos, e ainda querem fugir das portas que deixaram aberta ao medo. Estes são teus pesadelos, sejas bem-vindo a eles.
Talvez você entenda como funcionam os males deste jardim, depois de leves sofrimentos, talvez você aprenda curar suas feridas. Mas, não se importe, adentre estas maldições, é tudo um bloco falso. Não se envolva, transporte-se;
Um dia você entenderá. [Se puderes agüentar até o fim]
Bem-vindo à minha morte!

Anjo Negro

Ela é só um pequeno anjo que corre pelas ruas vazias da noite. Teve suas asas arrancadas, e caiu em um plano de fogo. Ela foge todos os dias, enquanto suas penas negras vão crescendo aos poucos. A música ecoa alto pelos corredores avermelhados, não existe mais o som das harpas, agora é só uma batida, com vozes que tentam dominá-la, com mãos que tentam trazê-la para baixo. Ela não pode chorar, as lágrimas iriam inundar o vazio que seu coração deixou, e ela não poderia mais respirar. A estrada começa a se estreitar, os atalhos acabam, e o cheiro de enxofre a faz tropeçar.
Ela consegue uma pequena fresta aberta, localizou os pedaços perdidos e remontou seu próprio coração, que ainda sangra e tem vários ferimentos, mas muitos já cicatrizados. Ele está mais forte agora, regenerado pela dor.
Suas roupas são escuras, seus cabelos envoltos de ódio, seus olhos exalando um ar angelical. Ela tem posse de seu coração, suas asas negras. Caminha sem destino. Junta do chão os caídos, sorri como prova de gratidão.
Não existem mais perfeições, ela se tornou um erro, uma máquina mascarada, com a pintura borrada, com as unhas afiadas, ela está pronta para mais batalhas, cravou um punhal em si mesma, antes de qualquer decepção, criou imunidades, correu através de espadas, ela sabe que vai vencer.
"Você aprende com o tempo, são todos iguais, basta aprender moldar cada um deles conforme lhe convém!"
Ela é só mais um anjo negro, que sobrevive neste mar de tempestades de areia, imortalizando seus passos, enquanto não chega ao céu.
Me perdoe se sou ela!

Anjo das Sombras


Como você se sentiria ao saber que é apenas um anjo vagante neste mundo de sombras? Como você se olharia no espelho, ao perceber que ganhou asas negras, e sua missão é apenas proteger? O que você acharia de sua alma, se soubesse que você é apenas o reflexo invertido dela? Com que olhos você procuraria uma solução, se soubesse que você é a resposta para todas as perguntas?
Ela apenas aceitou seu destino, vestiu suas asas e voou em um rumo desconhecido. Ela não serve pra mais nada, além de uma amiga, além de uma proteção, aquele porto seguro onde você estará seguro de todos os males impostos pelo mundo. Ela caminha no escuro, se esconde nas sombras, a noite a guia até seu castelo, e ao velar teu sono ela implorará perdão divino por sentir algo proibido aos anjos, mas renunciará seus sentires, ignorará seus pesares, ela é apenas um anjo, é irrelevante o que sente, só importa o que seus protegidos estarão sentindo nesta noite. O frio acobertará seu coração machucado, mas suas forças serão renovadas ao nascer do sol. Novamente ela caminhará ao teu lado, mesmo que não a possas ver, cobrirá tua cabeça das loucuras, guiará teus olhos ao certo, segurará tua mão para que não caias. Ela é apenas um anjo, e já se conformou com isso.
Caminhe pelo paraiso, enquanto ela paga por seus pegados nos vales sombrios, sorria, enquanto ela chora suas lágrimas, corra, enquanto ela se cura das suas feridas...
Ao seu lado, não há nada além de um vazio, não há ninguém, mas no chão, existe sempre um par de pegadas a mais, preste atenção. Não grite sua solidão, ela nunca te deixará só, não se jogue nos lamentos, ela sempre estará ali pra te ajudar, mesmo que não possas ver o quão grande e forte é o amor que ela sente por ti.
Não és o único, agora já existe mais um, uma seria o certo, um protegido e uma protegida, aqueles agraciados com o sorriso que ela apresenta, aqueles de quem ela segura as mãos e encaminha para um bem-estar desproporcional.
A protegida pode perceber sua presença, ela se mostra real, ela está logo ali ao lado, mas seu protegido não vê nada além de um vazio, talvez uma brisa constante, ele não quer enxergar, mas isso não importa, ela estará ali para quando ele precisar.
Agora ela corre de mãos dadas com sua protegida, brinca, sorri, enfeita seu rosto com alegrias inventadas, e deixa seu coração sangrar sem medo ou culpa.
Mas ela não dorme, ainda não, vigia o sono do seu protegido, afaga seus cabelos durante a tempestade, e o faz dormir enquanto desenha mundos paralelos cheios de conforto para ele, que dorme tranquilo, sem saber que alguém o protege constantemente.
Ela é apenas um anjo, que caminha nas sombras pra se esconder, apenas um anjo, que vestiu suas asas e aceitou seu destino.

Sufoco

Esta bolha, esta maldita bolha que me aprisiona nestes pesadelos infundados. Meus gritos se prendem, me sufocam. Minha vida se limita em uma gaiola dourada, o perigo está lá fora, as danças estão do outro lado, e eu aqui, vendo tudo ir morrendo pela tela de um espelho. Deixem-me voltar a ser uma imagem, cansei de ser um reflexo, um reflexo distorcido, uma alma vagante entre os mundos, um par de sapatilhas jogado fora.
Incrível como conseguem fazer um sonhador desistir dos seus próprios pensamentos. Deve ser tão gratificante, apunhalar quem não pode se denfender.
Meu tempo está acabando, as paredes estão se fechando, e eu aqui, essas correntes são pesadas demais, estes cadeados não têm chaves, a ferrugem dominou todo o lugar, enxofre é o cheiro que predomina, cade as luzes, o céu?
Solte a adaga, já não há mais carne para você perfurar aqui!
Ah não! Mas que tormento, as vozes, sempre elas. Meu corpo é só sangue nesta bolha de plástico vagabundo, meus gritos malditos ecos presos em minha própria alma.
Está tudo escurecendo, não há mais vida, é só um mar de fogo e vozes arruinando meu último fio de sanidade.
Sangue, sangue por toda parte, dor, chicotes, medo, pavor. Se é um pesadelo não me deixa acordar, porque minhas algemas são apenas carvão riscado em meus pulsos. Há fogo, muito fogo, mas o calor não se compara ao meu sufoco naquela bolha.
Ar, eu preciso de ar, o cheiro é tão forte. O desespero me leva à loucura, eu já estou correndo, não existem saídas, as portas estão trancadas, não há fonte de oxigênio, meu corpo, ah meu corpo está se desfazendo, estou virando pó, os gritos estão sumindo, minha vista está morrendo, o cheiro, não existe cheiro, é tudo só, pó!

Tortura

O vermelho dos meus olhos se misturam com os roxos em meu rosto. Os pontos nos lábios, enquanto meus braços se envolvem em minhas pernas procurando ar. A cabeça abaixada, a garganta seca, o corpo nu, sangue sobre um palco criado, a água quente do chuveiro, o vidro embaçado, as dores de mais um dia de auto tortura.
Os visinhos se enlouquecem com a música alta, não quero que ouçam meus gritos, essa dor que me consome ao lembrar de ti em cada letra. O gosto de sangue já marcado nos lábios, os perfuro com os dentes toda noite em que não sinto teus beijos me dizerem boa noite.
Me jogo contra parede recitando todos os poemas que te dediquei, relembro todas as nossas conversas, reclamo de todas as tuas promessas... Malditos planos que nunca se concretizarão!
Essa é a minha hora do dia, ou da noite, já nem sei mais, não deixo que abram a cortina do quarto. É o momento que mais odeio, ou o que mais amo. Preciso dessa tortura diariamente, lembrar de tudo o que me fazia bem, e que hoje só me faz sofrer, é como uma droga, que me alucina, que me tira do meu próprio eu, e que me faz curar todas as feridas. Um dia, sei que não precisarei mais delas, sei que vou conseguir olhar o sol, ou enxergar as cores desse mundo caótico, mas enquanto eu não alcanço meu troféu por tantas dores, continuo com minhas torturas a procura de ar.

Prisão Interna


Eu não iria suportar, e acabei sentindo as lágrimas inundarem meus olhos, fazendo meu rosto virar apenas água, água e mais água, dor e sofrimento. Eu não era capaz de imaginar tal cena, eu não queria minha cabeça era um turbilhão, eram apenas vultos, não havia nada que se materializasse, nem mesmo eu conseguia me sentir, eu não estava ali, não pertencia aquele lugar, era só uma imaginação, o tempo não havia passado, eu estava dormindo, livros, eram só paginas de livros, capítulos inteiros, com fotografias, um filme talvez, sentimentos vivos, pessoas de verdade, não poderia ser real, como eu me arrependia, não, não saiam da minha cabeça, vozes idiotas, sumam daqui, eu não as quero, já estou confusa, não me confundam ainda mais, saiam. O vento, o frio, o frio ta me invadindo, meu peito ta congelando, cobertores, alguém traga cobertores, não estou agüentando, posso sentir meus lábios tremerem, minhas mãos transpiram, mas faz frio, um absurdo de frio, é noite, não, é dia, tem sol, mas não tem vida, o que ta acontecendo, Deus, alguém, socorro, alguém me ouça, eu quero fugir, alguém me ajuda, eu preciso sair.
Uma luta interta explode em meu peito, uma fera selvagem e uma doce menina, eu não sei quem é mais forte, eu não sei qual quero, este vento me envolve, esta loucura, a decisão, por que apenas uma? Não importa quem vença, haverá uma perdedora, e serei eu, não posso continuar, não, e se eu machucar mais alguém?
É um filme, um conto, terror, sangue, chuva, gotas grossas cortando minha pele, um machucado, cicatrizes, pele gelada, olhos vermelhos, dor, fogo, meu peito queima, minha boca grita, gritos sem voz, sussurros fervorosos, eu quero escapar, quero me ver livre, mas como fugir de uma peça que eu pedi para protagonizar?
Ajuda, não sei mais, quem chega perto morre, não quero mais inocentes caídos ao chão, não quero mais sangue, quero fugir, encontrar o meu caminho, andar sozinha sem precisar correr.
Já não dá mais, meu rosto está pálido, meus lábios sem vida, meu corpo gelado, estendido em um chao sujo, estou fraca, não sei se consigo, não sou eu, eu já nem me sinto mais.

Pulsos


Um coração. Batendo fraco. Já cansado. De funcionar. E gritar. Calado. Dá alguns salpicos. Rapidinhos, como se quisesse sobreviver. Mas logo pára. E espera. O amanhecer.
Barulho. Números. Um longo suspiro que corta a noite. Telefonema. Notícias. E todo mundo se junta para correr desesperadamente sem paradas ao quarto que anuncia. O coração se cala. E volta. Suspiros lentos.
Demora. Sinal de vida. Sem pressa. Batendo. Pouco a pouco. Unicamente. Com duplicadas.
Uma esperança desejada. Forças reunidas de um fundo próprio. O coração dispara, quer bater, se fazer ouvir, apita o aparelho sem exitar. Felicidade em volta, todos gritam, nada se ouve, e de repente, mais uma batida. O coração pára.

Insanidade


Em um 'clik' tudo começa, o pesadelo diário que se tornou parte da minha inútil realidade. Um mergulho no inconsciente que me transforma em personagem principal.
Caminhos escuros, corredores imundos, vazio e sombras. É sempre o mesmo roteiro, o mesmo cenário, os mesmos personagens. Sua voz ecoa em todos os cantos, vindo detrás das paredes, como uma alucinação prevista, desejada, entorpecente. Meus pés correm, sem configuração alguma, eles sempre têm sapatilhas de bailarinas. Uma saia rodada e uma camisa apertada, sem mangas, sem meias, sem qualquer coisa que possa me dar uma sustentação, é assim que eu sempre me encontro ao me perder.
Eu queria gritar, gritar até perder a voz, gritar enquanto canto todas as músicas entaladas na minha garganta, mas o silêncio me prende, e eu ouço suas rimas em alto falantes presos no teto. No fim da escada, há sempre duas portas brancas, e eu nunca sei qual me trará de volta.
Pra trás apenas um caminho que eu já decorei, segredos que eu já sei, pecados que já cometi, crimes pelos quais já paguei, mistérios que já descobri, e na minha frente...
Não há nada de novo aqui, mas sua voz me perturba. Todos os cantos explodem com sua canção, meu reflexo me faz arranhar as paredes, quebrar os lustres, trincar os vidros da janela, em tentativas infundadas de perder o equilibrio e cair. Eu só queria poder encontrar o chão, me misturar às minhas poças de sangue, ser um tapete para as mentiras, mas tudo o que me cabe é esta cela de vidro, que de transparente apenas têm teu canto, tua melodia que embala meu disturbio.

Coração Assassino


Te entrego meu coração, em corpo e alma, em chamas e ardente. Te entrego o coração sanguináreo, de quem ama. Te entrego o coração assassino, que escolhe o errado e faz sofrer. Te entrego em uma caixa de presente com um laço, este ordinário coração acelerado. Te entrego para sangrar em tuas mãos, este coração desamparado que mata de amor. Te entrego com um sorriso nos olhos, este coração dominador. Que seja teu o que pulsa a vida e mata em agonia. Que seja em carma em teus pensamentos o que alegra e faz morrer. Será teu, por toda a eternidade, o que nunca ousas-te perceber, e ao desânimo de tua vida, quem sabe irás ver, este coração acelerado que bate por você.
E ao me livrar desta angustia, te entrego este assassino e meu coração. Deitarei ao seu lado e segurarei sua mão. Fecharei os olhos, caminhando além, e no calor dos seus braços, enfim, morrerei.
Que seja vida, o que a morte me causou, que seja teu, aquilo que me matou!

Trinta Minutos

E vem o doce badalar da meia-noite. Não importa que horas sejam, será sempre meia-noite para o relógio antigo, ecoando no vazio do quarto. O ponteiro indo de um lado para o outro, por inércia, é o único retrato naquela penumbra. Uma pequena faixa entre a vela e ela. Parafina gasta, lutando contra o tempo enquanto aquele pavio, já cansado, persiste em se manter aceso com a força da ventania lá fora e os pequenos respingos de chuva a molhar o assoalho de madeira. O silencio predomina, são só murmúrios as lamentações dos lábios dela, e ainda que gritasse, as vozes em sua cabeça seriam mil vezes mais enlouquecedoras. Caminhos que poderiam ter sido feitos, vontades que poderiam ter sido preferidas... nada mais faz sentido. O passado é um templo e, de joelhos, ela já não quer mais rezar. Trinta minutos, esse é o tempo e não haverá nada além, apenas brasa e fumaça. Unhas a rasgar a madeira vermelha, olhos a perfurarem a noite em laminas cortante.
O que eles dirão quando o quarto estiver em chamas?
Água para abafar o silencio, costuras para pregar a boca calada, não há escapatória!
Pilhas novas para o que já é velho, dezoito minutos é tudo o que resta. Tudo será consumido pelo terror que as retinas podem criar. O ranger dos dentes é só mais uma música para um filme de terror. Relâmpagos, trovões, deixem a tempestade apagar o fogo, amenizem a dor, anestesiem o que quer se libertar. Um anjo a costurar as próprias asas, remendando o coração com pregos enferrujados.
Tic, tac, tic, tac, tic, tac, quase uma bomba relógio. Segundo a segundo, pontinhos desenhados em traços sangrentos, nove minutos é o que resta. As torneiras abertas, os vazamentos proibidos, a água já sobe pelas paredes. Manchas do que contarão historias, diários escritos no teto, um mundo submerso.
Um, um, um! Que os vidros sejam resistentes o suficiente para agüentar a pressão, que as paredes mantenham-se intactas para a cena final! Não há ar, inflamem os pulmões, é só mais uma tempestade a ressoar. Aquela vela e ela, a maldita vela e ela. Os olhos avermelhados, brasas que gritam por socorro. As unhas quebradas, traços do assoalho nos dedos. Essa é a condição, esse é o momento final.
Zero, zero, zero! O limite fora submetido aquele desafio e lá ela permanece. Uma volta inteira no relógio, um caminho árduo sem restantes, uma soma sem fatores, nada vezes nada igual ao vazio. Não, não, não! Lá vem, está chegando, mais uma vez, alguém pare o mundo! O tempo enlouquece, desaparece, engole, toma, ela, eu, o infinito, não há nada aqui, a vela e eu.
E vem o doce badalar da meia-noite. Não importa que horas sejam, será sempre meia-noite para o relógio antigo, ecoando no vazio do quarto. O ponteiro indo de um lado para o outro, por inércia, é o único retrato naquela penumbra. Uma pequena faixa entre a vela e ela. Parafina gasta, lutando contra o tempo enquanto aquele pavio, já cansado, persiste em se manter aceso.