Marcadores

Localize-se

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Noite


As patas estão batendo forte contra o chão. Forte demais, rápido demais. Mas o cavalo agüenta. É o mais forte e veloz da aldeia. Ele fora escolhido a dedo, fora selecionado. Uma vida eterna ao lado de sua dona. Uma vida de cumplicidade, uma vida de morte.
As botas da mulher estão batendo forte. Forte demais, ansiosa demais no couro do animal. Mas ela não o machuca, só quer que ele se apresse.
Os dois pares de olhos brilham na escuridão. Olhos feitos de fogo, olhos manchados de sangue. Doce mel que os mantém vivos.
O primeiro raio de sol já brilhou no horizonte, eles sentiram a chicoteada os atingir as costas. “Mais rápido, garanhão.” A moça pede, sabe o que acontece com quem não cumpre a lenda. Malditas lendas. Maldita noite. Não fora produtiva, e ainda deixou cicatriz em sua mão.
O galope pode ser ouvido ao longe, mas não há ninguém para ouvir.
A saia dela voa, tecido nobre, caro, vermelho. A blusa preta combina com o tecido, o que despertou o olhar daqueles que a viram fugir. Uma pele tão clara, um cabelo tão ruivo.
Só faltam mais alguns quilômetros. Poucos quilômetros.
O cavalo dispara. Parece voar. Quem sabe consiga. Não demoram 3 minutos para chegar ao castelo.
Oh lar, doce lar.
Ela corre, deixa seu amigo em um lugar especial, fecha as janelas, ninguém a ajuda, ela não precisa de ajuda. As cortinas negras deixam a sala escura. Nenhum feixe de luz. Finalmente a paz.
Ela está cansada, precisa de um banho.
As roupas rasgadas ganham o azulejo branco do banheiro, e um corpo morto jaz na banheira de água quente.
Nenhum batimento. Nenhuma respiração. Mas ela sorri.
Festará amanha. Fará um banquete a si própria. Sangue. Da melhor qualidade.
Risos são ouvidos pela imensidão do castelo, ela sabe o arrepio que isso causa aos seus empregados, mas não se importa. Amanha estarão todos mortos para que ela se satisfaça. É só para isso que servem.
É a hora de dormir. Um sono profundo. Um sono sem sonhos. Logo anoitecerá, e ela precisará de forças para preparar o jantar.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Jardim


Um vento frio abre a janela. O barulho do vidro a trás do seu mundo de sonhos. Ela abre os olhos com dificuldade, ainda é madrugada. O vento continua a tocar a janela, fazendo as cortinas dançarem, ela sabe que ele está vindo.
Ele nunca avisou quando chegaria, nunca deu notícias, mas ela sabe que estará ali em poucos minutos.
Um sorriso inunda sua face, o brilho em seus olhos azuis é mais visível sobre a luz da lua, do que quando estivera de dia. Se levanta, não tem muito tempo, não quer fazê-lo esperar.
Veste um roupão qualquer, está frio lá fora. Coloca um sapato qualquer para proteger os pés, a euforia é tanta que até se esquece de acender as luzes para enxergar o caminho da porta.
Ela esperou por este momento por tanto tempo, nem acredita, ele estará ali, ela sabe que sim.
Não será mais um sonho como em todas as outras noites, desta vez é real, ele disse que viria, disse que um dia a encontraria, e este dia chegou.
O fim da espera. As nuvens agitam-se no céu escuro, obra dele, ela sabe, ela o conhece melhor do que a si mesma.
Fecha a porta com cuidado, mais alguns passos e estará no jardim, assim como combinaram. Aquele balanço, ela se sentava todos os fins de tardes naquele balanço, esperando por uma mensagem dele, mas ele só vinha nas noites mais frias.
Novamente ela está sentada, as mãos se apertam para aquecer, mas no fundo é só ansiedade e esperança.
A última brisa fria tranpassa em seu corpo. Ele chegou.
Ela sente o perfume dele no ar, nunca sentira tamanha entorpecência com apenas um cheiro, o cheiro dele. Fecha os olhos, tenta ouvir os passos que ele dá sobre as folhas secas do jardim.
Um sussurro. Ela pode sentir a presença dele logo atrás de si, dizendo que chegou, então ela sorri. Ainda não abre os olhos, não, quer aproveitar desta magia por mais algum tempo.
Ele está na frente dela, segurando-lhe as mãos. Ele é tão frio, mas seu toque é capaz de acender fogueiras dentro do corpo dela...
Ela abre os olhos. Seus tão lindos olhos azuis a encontrar o brilho vermelho nos olhos dele. Seu sorriso, ela admira aqueles caninos desde que se encontraram pela primeira vez naquele sonho. Sua mão passeia pelo rosto dele, tão pálido.
Ele a beija, não aguenta mais esperar, tem esperado para encontrá-la desde que morrera, séculos de espera até que ela estivesse pronta.
O beijo da vida dela, a essência da morte dele.
Dois lábios, uma respiração, um único coração a pulsar o que faz o segundo coração continuar a manter seu dono vivo.
Eles estão na grama, abraçados, olhando as estrelas. Ele trás o vento, mas ela não sente, está segura nos braços dele, está feliz, está sorrindo.
A noite vai perdendo a força, é hora de partir, eles sabem. Mais um beijo, o primeiro raio de sol por pouco não toca o corpo dele, ela teme que isso aconteça.
Eles voam para o quarto dela, onde ele a repousa na cama.
Mais um sussurro, e ela responde que também o ama...
Então ele se vai...

terça-feira, 23 de junho de 2009

O preço da eternidade II - O ritual


"...Sorrindo, Karoline sentia uma sede de sangue, que apenas seu beijo mortal poderia saciar-lhe. Então, afiou ainda mais seus caninos, e abocanhou o pescoço de Bryan, que fechou seus olhos inconsciente."

Karoline olhou fundo nos olhos fechados do seu amor, ele repousava como um anjo em seus braços. Sua liberdade fora corrompida da forma mais carinhosa, e sua nova vida saberia repor tudo o que ele havia perdido naquele beijo. Já era tarde, mas ainda sim, era perigoso continuar ali. Sem nenhum esforço, Karoline pegou Bryan no colo, o colocou sobre os ombros, e numa velocidade incrível correu até sua casa, seu castelo, que ficava no alto de uma montanha.
Ao chegar em casa, Karoline não resistiu aos seus desejos vampirescos, e levou Bryan até seu quarto. Ele estava desacordado, e não deveria se lembrar muito do que aconteceu anteriormente, não por enquanto. Para simular algo, ela se despiu, e fez isso com ele também, vampiros gostam de jogos, e ao despertar, o professor estaria ainda mais confuso.
Ao alvorecer do dia, Karoline acordou para realizar seu ritual taumaturgo diário, assim, podendo purificar seu corpo. Se pôs em um circulo feito de pedras e ponte agudas na posição de lotus, e começou o ritual 'higiênico', fazendo com que qualquer impureza do seu corpo saísse. Assim que terminou, ela voltou para dentro do castelo, e encontrou com seu pai na sala. Os olhos deles brilhavam como chamas ardentes, sua voz era ríspida, ele queria saber quem era aquele ser que ela havia levado para o quarto ontem à noite.
- Pai, ele é o professor Bryan.
- O que? Eu não acredito que trouxesses um humano para nossa casa Karoline!
- Ele não é mais humano, o senhor disse que eu só poderia ficar com ele, se ele fosse um igual a nós, então, eu o transformei nesta noite.
- Você imagina o que acaba de fazer?
- Mas pai, o sen...
- Não me chame de pai! Romiro, este é meu nome.
- Sim senhor.
- Karoline, você desobedeceu a primeira tradição que Cain impos sobre nós. : A MÁSCARA "Não revelarás tua verdadeira natureza àqueles que não sejam do sangue. Ao fazer isso renunciará aos seus direitos de sangue."
A terceira tradição: A PROGÊNIE "Apenas com a permissão de teu ancião gerarás outro de tua raça. Se criares sem a permissão de teu Ancião, tu e tua progênie serão sacrificados."
Você consegue ver a gravidade dos teus atos?
- Mas pa... Meu senhor, estas eram as condições para que eu pudesse tê-lo para mim.
Ao ouvir os gritos vindos da sala, Bryan acordou, procurou por roupas, não sabia onde estava, nem que dia era. Seguiu até a porta, sentindo uma terrível dor no corpo, quando a fraca luz que ultrapassava a janela encostava em sua pele esbranquiçada. Enrolou-se em um cobertor, sentia um frio enorme, e pela fresta da porta, viu Karoline se ajoelhas, em lágrimas diante de um homem, que ele julgava ter cerca de 30 anos.
- Perdão meu senhor, perdão. Achei que nestes longos anos havia conseguido me priva de minhas fraquezas humanas, mas estive enganada o tempo todo. Eu o amo, ah como eu amo o Bryan, mas se soubesses como me arrependo. Me perdoe, por favor, eu posso amar o Bryan, mas o senhor é meu criador, o senhor é minha fortaleza, meu porto seguro, aquele a quem devo extrema obediencia, e aquele que eu amo mais do qualquer qualquer outro ser. Me perdoe, não mais me castigue, com tudo o que acontece, não me castigue, me é uma tortura não poder mais chamá-lo de pai, tu, que és meu criador, meu ancião, meu pai, não me castigue desse jeito, eu te imploro, deve haver algum jeito, algum ritual que faça Bryan esquecer o que viu e ouviu, e volte a ser humano novamente. Karoline chorava desesperada aos pés do tal homem.
Bryan colocava as mãos na cabeça, andava descontrolado pelo imenso quarto, não sabia o que estava acontecendo, não sabia o que aquelas pessoas estavam falando, mas ele teria que dar um jeito de sair daquele lugar.
- Karoline, és minha cria, e segundo a Quarta tradição de Cain, nosso Senhor, sou responsável por ti. Tu fostes a única que transformei até hoje, a única a quem vi quase morrer, e lhe dei uma vida nova. Sempre te deixei livre para fazeres o que quisestes, e só pedi responsabilidade de tua parte. Mas és minha cria, te levante.
Karoline, obedecendo seu ancião se levantou, e seu pai a abraçou fortemente. Depois de séculos, uma única gota de lágrima escorreu por sua face. Lágrima que ele imediatamente escondeu.
- És minha filha, e nunca deixarás de ser. Eu a amo, como eu a amo. Teu futuro posso garantir, te livro da punição cabível a terceira tradição, mas tua cria terá que ser destruída em um ritual de torpor eterno.
- Tem certeza meu pai? Não há outro jeito?
- Sim, tenho certeza.
- Então, se é assim, que seja feita vossa vontade.
- Vá cuidar para que sua cria não fuja, que eu procurarei os 10 anciões necessários. O ritual será nesta noite.
- Sim meu pai!
Karoline então foi em passos lentos até seu quarto, e Romiro saiu em uma extrema agilidade pra fora, a procurar os anciões. Quando Karoline chegou no quarto, viu Bryan tentando abrir a janela para tentar escapar.
- Bryan, não!!
Ela gritou, mas já era tarde demais. Assim que ele abriu a janela, a luz do o jogou fortemente contra o chão.
- Ah, socorro, socorro.
Era só o que ele gritava enquanto sentia a luz queimar sua pele. Karoline foi rápido ao fechar a janela, ele ainda era um 'recém-nascido', ainda não estava pronto para enfrentar a luz do sol, assim como ela e seu pai. Karoline olhou para Bryan caído, e o ajudou a se sentar na cama. Ele estava fraco, precisava se alimentar, então ela mordeu o próprio pulso e deu para que ele tomasse seu sangue. Ele não entendia aquilo, e não queria, mas sua sede era tanta, que ele tomou desesperado o sangue da vampira. Karoline teve que o interromper, assim que se sentiu tonta.
Com a boca cheia de sangue, o professor perguntou o que estava acontecendo, ele estava com medo. Ela olhou fundo nos olhos dele, e sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, e então, se aproximou dele, e deu-lhe um beijo extremamente longo e apaixonado. Sem que ele percebesse, ela o mordeu em meio ao beijo, sugando boa parte de seu sangue, deixando-o ainda mais fraco. Após o beijo, Bryan olhou pra ela sem entender.
- Durma meu amor, tudo ficará bem!
- Eu não irei dormir até que você possa me explicar o que está acontecendo.
Karoline não conseguia deixar de pensar que o ritual estava próximo, e então, fechou seus olhos e concentrou uma grande energia em suas mãos, lançando-a contra Bryan, fazendo-o assim dormir novamente.Assim que Bryan adormeceu, ela pegou um cálice de ouro em sua cômoda, e cuspiu nele todo o sangue de Bryan. O lacrou com magia, e escondeu para que ninguém pudesse encontrá-lo. Karoline sentiu a culpa de tão belo e jovem rapaz morrer pesar em suas costas, e o carregou até o banheiro, dando um banho carinhoso nele. Ele permanecia desacordado, pela força de energia que ela havia usado nele. Ela não tinha forças pra falar, não tinha forças pra pedir perdão e dizer o quanto o amava.
- Não tenhas medo meu querido, será rápido, e não irá doer. Não te preocupes com nada, quando acordares os olhos, irás perceber que foi muito melhor do que você um dia imaginou.
Logo após dar-lhe um banho, ela o vestiu com cuidado, seu corpo estava frágil. O deitou em sua cama, e ficou a contemplar o semblante de medo que exibia ao dormir.
O dia se passou rapidamente, e quando a noite já trazia a escuridão, seu pai chegou com 10 anciões em casa. Todos estavam vestidos com longos mantos pretos, capuzes e luvas, para não serem identificados. Bryan acordava lentamente, sua visão estava confusa, e seus outros sentidos também. Do quarto, Karoline viu os anciões, e ao olhar seu pai, abaixou a cabeça. Dois anciões entraram em seu quarto, um segurou seus braços, enquanto o outro pegou Bryan no colo e o levou para uma área descoberta do castelo. Todos estavam reunidos lá, e Bryan não conseguia gritar por socorro, nem mesmo falar, perguntar o que estava sendo feito de sua vida.
Um dos anciões o despiu, pegou um punhal mergulhado em sangue de ovelha negra e fez uma cruz virada pra baixo na barriga dele, e costurou um crucifixo em sua boca. Bryan ainda nao sentia dor, mas sua alma estava o matando por dentro com o crucifixo. O ancião o amarrou com correntes de prata, que haviam ficado durante 7 dias, sobre a luz da lua cheia. Uma fogueira com o dom taumaturgo de fogo foi criada, e logo em seguida um pó de sal foi colocado em volta da fogueira. Só então ele começou a sentir dor. Sua dor era tanta, que ele não suportou e entrou em frenesi. Karoline não aguentava ver aquela cena, e se remexia nos braços do ancião que a segurava. Foi então que os anciões se ajoelham em volta da fogueira e começam a falar em latin um cantarilho mortal. Bryan gritava, seu corpo já havia sido corrompido, agora sua alma era brutalmente torturada. Karoline gritava por seu nome, chorava desesperada, e tentava em vão sair daquele abraço sufocante e salvar seu amor de toda essa angustia que a consumia, dilacerando sua mente.
2 horas depois de tanta tortura, o ancião que havia costurado a cruz, se levanta e vai até Bryan. Ele, sem dó alguma puxa a cruz, descosturando ela rapidamente, e deixa o sangue de Bryan escorrer pra dentro de uma taça de ouro, cravejada de diamantes formando cruzes. Bryan era um vampiro, e como qualquer outro vampiro, seu machucado vai se curando rapidamente. O ancião esperou que a ferida se fechasse, para costurar novamente o crucifixo na boca dele. Logo após, o ancião subiu num altar de mármore, que ficava neste local descoberto do castelo, e ofereceu o sangue da taça a Caim e Zulah, e então se pôs a desafiar cada ponto cardial, fazendo isso 7 vezes. Na sétima o ancião caiu desmaiado e do cálice saiu uma fumaça cinza de fogo, que passou a queimar Bryan, e o fez ficar amaldiçoado a entrar em torpor eterno.
Os anciões se levantaram, pegaram o que estava caído com todo cuidado e se retiraram do local em alta velocidade, deixando Bryan acorrentado, e Karoline caída ao chão, sobre lágrimas. Karoline, com dificuldade recuperou suas forças, e desacorrentou seu amado. Pegou com carinho, queria arrancar aquela cruz que estava costurada em sua boca, mas isso só traria mais sofrimento. Levou-o para o seu quarto, acariciou seus cabelos até que ele pudesse acordar. Sorriu seu sorriso mais gentil. Os olhos de Bryan eram dor, ódio, raiva, tortura, mas ela não se importava, ele continuava belo.
- Bryan, és um vampiro agora, podes falar comigo por telepatia, tente meu amor, tente, e atenderei seus desejos. Você teria 5 horas até entrar em torpor eterno, mas já se passou uma, por favor, me perdoe. Bryan fechou os olhos, e tentou por várias vezes se comunicar por telepatia com Karoline, até que conseguiu.

[telepatia]
- Karoline, viu o que fizestes comigo? Agora estou condenado a esta inútil forma, e a dormir eternamente.
- Me perdoe, eu te amo, pensei que assim poderíamos ficar juntos.
- O que será da minha família agora, sua irresponsável?
- Cuidarei deles pra você.
- Não! Não se aproxime de nenhum deles, não quero que nenhum tenha o mesmo fim trágico que o meu.
- Como quiser. Este é seu último pedido?
- Não, eu preciso escrever uma carta.
- Carta? Pra quem?
- Katherine, meu único e verdadeiro amor.
- Katherine, sempre Katherine. Não vês que ela é a culpada de tudo?
- Não a condene pelos seus atos.
- Não irei discutir contigo, me arrume caneta e papel.
- Como quiser meu amor.

Karoline se levantou, pegou caneta e papel, e deixou sobre sua escrivaninha.

[telepatia]

- Tens 4 horas apenas, não te esqueças, não irás vê-la?
- Me deixe em paz!
- Como quiser.
Karoline saiu do quarto, e deixou seu amado ali, sozinho, enquanto suas últimas 4 horas de vida iam se esvaindo. Então, ele começou a escrever sua última carta.
Thannyth e Wyllyan

O preço da eternidade I - Um novo cainita


Bryan era um moço jovem, de apenas 22 anos. Alto, branco, olhos claros e cabelos escuros. Por onde passava, arrancava suspiros e mais suspiros. Morava com a mãe, já que nunca conhecera o pai, e um irmão caçula de 16 anos. O pai de seu irmão, sempre fora um homem bom, humilde, e Bryan queria seguir os passos de Gerson, seu pai adotivo.
Bryan lecionava na única escola que tinha ensino médio em sua cidade. Dava aulas de filosofia, sempre fora bom na matéria. Era um professor querido por todos, simpático e divertido, exceto por uma aluna.
Karoline tinha os cabelos compridos, negros, e sempre caídos por seus olhos, sempre escuros. Sua pele era clara demais, mesmo não fazendo tanto sol na cidade, nem todos eram tão brancos como ela. Não tinha amigos, e vivia em seu mundo solitário no canto da sala, sempre prestando atenção em Bryan.
Era madrugada quando Bryan caminhava pelas calçadas imundas da pequena cidade em que vivia. Tinha acabado de deixar Katherine em casa, sua namorada, seu eterno e único amor.
Ele caminhava sem pressa, mantinha os passos longos e sossegados, nada acontecia naquele lugar esquecido por Deus.
As ruas estavam desertas, era tarde para uma cidade pequena. As pedras que batiam em seus pés, seguiam-se pra longe, e apenas o barulho que as mesmas faziam era capaz de ser ouvido pelos ouvidos despreocupados de Bryan.
Até que então, algo o alarmou.
Bryan caminhava, olhava tudo e via o lugar só, o poste à sua frente tinha a lâmpada quebrada, e enquanto passava entre o poste, uma sombra começou a segui-lo, porém, ele não entendia o por quê dela ainda existir, já que no local não havia luz. Foi então que ele sentiu algo, um arrepio. Seu coração disparou, e uma energia negativa tomava conta do local. Bryan corria, ele corria descontroladamente. Mas quanto mais corria, mais sentia seu peito bater compulsivamente, e um medo apavorante invadir-lhe a alma.
Bryan correu tanto, que as próprias pedras que ele chutara anteriormente, fizeram-lhe tropeçar. Ele não queria olhar pra trás, não, ele estava perturbado, mas ele precisava se levantar e correr. Ao por-se em pé novamente, ele viu a mesma sombra que o seguia chegar rapidamente mais perto. Era uma imagem distorcida, e o cheiro do sangue que saia de sua cabeça, a atiçava ainda mais.
Ele fechou os olhos, tentando se recompor, foi então que ouviu uma voz conhecida.
- Professor Bryan, tudo bem?
Bryan abriu os olhos desconfiado, aquela era a última voz que ele pensaria em ouvir naquele momento.
- Karoline? O que está fazendo aqui a essa hora da noite?
- Estou vindo da casa de uns amigos, aconteceu alguma coisa? O senhor está branco!
- Alguém, alguém estava me seguindo, você não viu?
- Não, me desculpe mas eu não vi ninguém, não!
Bryan recuou por alguns instantes.
- Vá pra casa Karoline, está tarde.
- Sim, eu vou, mas antes, deixe-me lhe ajudar.
- Eu estou bem, não preocupe, vá pra casa.
Karoline sorriu de canto, se ajeitou e seguiu seu rumo por entre a escuridão.
Bryan suspirou, e pensou por um segundo, não havia engolido a história de Karoline, e alguém estava o seguindo, disso ele tinha toda a certeza.
Mas já estava tarde, e o susto havia sido demais pra ele. Voltou a caminhar em direção a sua casa.
Na manhã seguinte, como em todas as manhas, Bryan levantou animado para ir dar aula. Teria um horário livre no meio da tarde, e aproveitaria para comprar o presente de um ano de namoro nesse meio tempo.
Quando chegou na escola, foi simpático com as zeladoras [que o admiravam discaradamente] e adentrou sua sala de aula. Assim que entrou, percebeu que Karoline, que nunca havia faltado um dia se quer, não estava lá, quieta, no seu canto obscuro de sempre, e isso o preocupou mais ainda. Fazia de tudo para não lembrar do episódio da noite anterior, mas tudo o que lhe vinha a cabeça, eram os olhos puros de Karoline, e seu sorriso sedutor, porém sombrio, que havia visto naquela noite.
A manhã se seguiu normalmente, e ele não comentou o fato com ninguém. Logo mais a tarde, comprou o presente pra sua namorada Katherine.
Mandou que embrulhasse num papel vermelho reluzente, o que tinha dentro daquele pacote era um mistério, que apenas ele saberia desvendar.
Voltou para a escola logo no final da tarde, e deu suas aulas noturnas na mesma empolgação que havia dado a primeira aula do dia. Esperou até que todos os seus alunos tivessem ido embora, e foi também. Era inevitável passar pela rua em que havia se assustado ontem, então, caminhou o mais rápido que pôde, chegando logo, e a salvo na rua de sua casa.
Embaixo de sua roseira, observou que tinha alguém, uma mulher.
- Olá professor Bryan.
Soou a voz feminina e sedutora que ele não havia ouvido esta manhã.
- Karoline, é você?
- Sim, sou eu!
- O que está fazendo aqui?
Karoline nada respondeu, e esperou que ele viesse vê-la mais de perto.
Seus cabelos longos, e escuros a escondiam mais ainda, e a fraca luz da rua, iluminava seu olhar, que era angelicalmente infernal.Assim que se aproximou, Bryan viu os olhos, que já estavam rubros, de Karoline, e seus dentes mais afiados.
- Mas o que está acontecendo aqui?
- O que foi professor, não está feliz em me ver?
- O, o que é você?
- Ora, sou eu, chegue mais perto.
Tomado pela curiosidade, Bryan se aproximou ainda mais de Karoline, grande erro. Assim que ele se aproximou o suficiente, ela pulou em cima de seu pescoço, derrubando-o no chão.
- Karoline, me solte!
- Ah! Por que? Está tão bom sobre seus braços.
- Socorro!!
Bryan gritava desesperado por socorro, mas Karoline foi mais rápida, e calou seus lábios com um beijo quente e molhado. Ele lutou em vão, contra a pequena moça que lhe dominava. Olhando fundo em seus olhos, Karoline fez com que Bryan parasse de se mexer, sem poder ter reação nenhuma. Ela lhe contemplava com fervor, e então, declarou tudo o que sentia.
- Sabe, desde o dia em que te vi, adentrando o meu território naquela escola, eu me apaixonei perdidamente. Nunca havia visto alguém como você. Nunca havia visto um mortal tão belo e atraente como você. Seu cheiro, o cheiro do seu sangue me deixou completamente perdida, fascinada, eu tentei me afastar, eu tentei fugir de meus instintos, mas a cada dia que passava, minha fome de ti aumentava, meu desejo, minha paixão, e você nunca nem se que olhou pra mim. Por que hein? Eu não sou tão feia. Você só sabe ter olhos para aquela idiota da Katherine. Garota sem sal, sou muito mais eu. Mas agora, sou eu quem te tem sobre domínios, e eu posso fazer contigo o que eu quiser. Prometo que não doerá, não suportaria ver-te sentindo dor. Será rápido, fique tranquilo.
Sorrindo, Karoline sentia uma sede de sangue, que apenas seu beijo mortal poderia saciar-lhe. Então, afiou ainda mais seus caninos, e abocanhou o pescoço de Bryan, que fechou seus olhos inconsciente.
Thannyth e Wyllyan