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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Noite


As patas estão batendo forte contra o chão. Forte demais, rápido demais. Mas o cavalo agüenta. É o mais forte e veloz da aldeia. Ele fora escolhido a dedo, fora selecionado. Uma vida eterna ao lado de sua dona. Uma vida de cumplicidade, uma vida de morte.
As botas da mulher estão batendo forte. Forte demais, ansiosa demais no couro do animal. Mas ela não o machuca, só quer que ele se apresse.
Os dois pares de olhos brilham na escuridão. Olhos feitos de fogo, olhos manchados de sangue. Doce mel que os mantém vivos.
O primeiro raio de sol já brilhou no horizonte, eles sentiram a chicoteada os atingir as costas. “Mais rápido, garanhão.” A moça pede, sabe o que acontece com quem não cumpre a lenda. Malditas lendas. Maldita noite. Não fora produtiva, e ainda deixou cicatriz em sua mão.
O galope pode ser ouvido ao longe, mas não há ninguém para ouvir.
A saia dela voa, tecido nobre, caro, vermelho. A blusa preta combina com o tecido, o que despertou o olhar daqueles que a viram fugir. Uma pele tão clara, um cabelo tão ruivo.
Só faltam mais alguns quilômetros. Poucos quilômetros.
O cavalo dispara. Parece voar. Quem sabe consiga. Não demoram 3 minutos para chegar ao castelo.
Oh lar, doce lar.
Ela corre, deixa seu amigo em um lugar especial, fecha as janelas, ninguém a ajuda, ela não precisa de ajuda. As cortinas negras deixam a sala escura. Nenhum feixe de luz. Finalmente a paz.
Ela está cansada, precisa de um banho.
As roupas rasgadas ganham o azulejo branco do banheiro, e um corpo morto jaz na banheira de água quente.
Nenhum batimento. Nenhuma respiração. Mas ela sorri.
Festará amanha. Fará um banquete a si própria. Sangue. Da melhor qualidade.
Risos são ouvidos pela imensidão do castelo, ela sabe o arrepio que isso causa aos seus empregados, mas não se importa. Amanha estarão todos mortos para que ela se satisfaça. É só para isso que servem.
É a hora de dormir. Um sono profundo. Um sono sem sonhos. Logo anoitecerá, e ela precisará de forças para preparar o jantar.

3 comentários:

Raysa disse...

"O galope pode ser ouvido ao longe, mas não há ninguém para ouvir. A saia dela voa, tecido nobre, caro, vermelho. A blusa preta combina com o tecido, e desperta o olhar daqueles que olham. Uma pele tão clara, um cabelo tão ruivo."

Se não havia ninguém pra ouvir, como poderia haver alguem pra ver ver a blusa combinando com o tal tecido?

Raysa disse...

Hmmm! Com a correção melhorou muito!

Java disse...

Simplesmente de mais

Gostei muito do final

parabéns :)