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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Luxúria




Meia-noite e meia e o último ônibus deixa o terminal inicial. Apenas uma garota embarca. Seu nome? Não consta na camiseta dos formandos. É sempre um mesmo ritual. Ela procura pelo banco mais perto e escondido da porta, tira um livro da bolsa, pega o aparelho de som e ajeita o óculos. Somente ela e o motorista, como em todas as outras noites. O som pesado da música que toca em seu aparelho toma conta do silêncio que permanecia ali. O motorista já não se importa mais, no começo achava um belo contraste com o jeito delicado e as roupas meigas da moça, mas depois de todo um ano se torna normal.

Ela está em uma boa parte do livro, presume-se isso por ela estar lendo pela segunda vez. Um sorriso de canto brinca em seus lábios, suas mãos tremem ao caminhar pela página. Seus pensamentos podem imaginar aquela cena, toda uma onda de prazer que é brutalmente quebrada quando o ônibus pára.

Os dois pares de olhos, que mantinham-se concentrados em seus afazeres se viram na direção da porta. Há um passageiro novo. Algo que não acontecera naquele ano. Ele é tão lindo, que a intensidade dos seus olhos azuis escuro faz com que a garota deixe um suspiro baixo escapar.

Ele sorri. Ele sorri e o brilho dos seus dentes reinam na escuridão daquele início de madrugada. Seus passos são largos e lentos, as mãos escondidas no bolso do sobretudo o torna ainda mais misterioso. Ele caminha até o último banco, sem se importar com o sacolejo do ônibus. Senta-se e acaba escondido pelos outros bancos.

Ah, ele pode sentir o que ela está pensando. Sim, ele pode.. E ele gosta, e fará ela gostar. Como um passe de mágica, seu corpo se desloca em uma velocidade sobre-humana até ela, e sua voz surge apenas como um sussurro em seu ouvido: "Se entregue." Seu hálito faz com que ela se entorpeça, abrindo assim as portas para que ele se sinta convidado a possuí-la. Como um vulto ele volta para o lugar, olhando-a sem que ela perceba.

As luzes piscam 3 vezes e apagam. Está tudo escuro como a noite lá fora, e ela não pode mais ler. Retira os óculos e pousa melhor o livro sobre o colo. Fecha os olhos e volta a imaginar aquela tão maravilhosa cena.

Ele está olhando diretamente pra ela, como se pudesse invadir a sua mente.

"Ela sente como se ele a pegasse pela mão e a conduzisse na dança. Sua camisola de seda voa com a brisa fria que transpassa a janela. Os cabelos soltos caindo-lhe nos ombros enquanto ele beija-lhe o pescoço. Ele está completamente nu, e a envolve nos braços em um abraço caloroso..."

Um suspiro feminino é ouvido através da música naquele ônibus, mas só ele percebe.

"As mãos claras e tímidas dela percorrem as costas dele, enquanto caminham para a cama. Seus lábios se unem em um beijo calmo, mas que vai se tornando intenso e volupioso conforme as mãos dele sobem pela cintura dela até alcançar-lhe os seios, abaixando as alças da camisola..."

Ela está sentindo um calor lhe subir o corpo, assim como suas mãos deslizando em um dos seios, como se descobrisse um mundo novo...

"A camisola de seda está caída no chão. Os dois corpos estão deitados na cama, e ela suspira baixo enquanto ele beija sua barriga, descendo pouco a pouco, enquanto a ponta dos dedos dele desliza pelo interior de suas coxas..."

A mão inquieta dela se conforta enquanto aperta uma das pernas, alisando a coxa com uma vontade enlouquecedora...

"Ele se encaixa entre as pernas dela, impulsionando o corpo pra frente e pra trás lentamente. Seus lábios estão ocupados em lhe mordiscar o pescoço, deleitando-se em ouvir os gemidos baixos que ela solta. As respirações estão ofegantes, ele está se embalando ainda mais forte e rápido para dentro dela, sentindo todo o corpo vibrar de prazer..."

Suas mãos estão suando conforme ela as passa pelo corpo. O corpo todo está em algum tipo de frenesi, ela não consegue se controlar. Os lábios se mordem violentamente, na tentiva de abafar os gemidos que sente vontade de deixar escapar. Todos os sentidos estão aguçados, mas parecem não existir, aquela sensação é por demasiada enlouquecedora...

"A sincronia dos corpos é perfeita, tão perfeita que em poucos minutos eles param, completamente exaustos. Estão abraçados, desmaiados sobre a cama. As respirações cansadas e ofegantes, os cabelos molhados pelo suor, e nos lábios um sorriso malicioso e satisfeito estampado."

Finalmente chega a hora de descer. Ela não sabe o que aconteceu, mas seu corpo está completamente extasiado por aquela experiência. Nunca pôde viver a cena de um livro de uma forma tão vívida em sua mente. Ela sabe que foi apenas imaginação, mas não quer pensar nisso agora, precisa de um banho gelado.

Do último banco ele sorri satisfeito enquanto ela desce. Mais uma noite que havia rendido doces frutos ao demônio da luxúria.